O Napoli conquistou pela terceira vez o Campeonato Italiano após o empate contra a Udinese fora de casa pela 33ª rodada da Série A. O jogo terminou 1 a 1 e confirmou o título para a equipe de Nápoles. Se depender do torcedor napolitano, a festa de comemoração não terminará nunca mais.
O cinema salvou o Napoli
Desde 1990, quando o Napoli conquistou o seu segundo título nacional, o clube passou por muitos períodos conturbados, teve péssimas equipes, foi rebaixado, chegou a falir, mas depois renasceu das cinzas.
Em 2004, quando o produtor cinematográfico, De Laurentiis, comprou o clube por uma quantia muito baixa, o time encontrava-se na terceira divisão italiana.
O Napoli passou então a pertencer à companhia cinematográfica do produtor italiano, chamada Filmauro, famosa pelos seus filmes 'cinepanettone', comédias lançadas na Itália durante o período de Natal.
Hoje, após 19 anos de ter adquirido o clube que estava falido, De Laurentiis comemora o terceiro título italiano do Napoli. Uma história que antes dele, tinha tudo para ser uma grande tragédia, mas no fim, se tornou uma maravilhosa comédia.
Sem Maradona não existiria Napoli
Este é o melhor Napoli desde a era Maradona. O argentino se tornou o maior ídolo da história do clube durante a sua passagem nos anos 80/90, que rendeu 2 títulos italianos.
Quando Maradona chegou à cidade de Nápoles, a equipe napolitana não representava nada no futebol italiano. Não tinha títulos nacionais e constantemente era alvo de chacota dos clubes mais ricos do norte.
Com Maradona, o sul italiano derrotou o norte pela primeira vez na história. Para se ter uma ideia, até hoje, em toda a história do Campeonato Italiano, apenas um time do sul venceu o 'Scudetto': o Napoli.
Maradona recuperou a autoestima do povo napolitano e sua importância extrapolou o campo de futebol. Sua idolatria representou a possibilidade de ascensão da população do sul da Itália, que ao longo da história, sofreu com muitas injustiças sociais.
Muita coisa mudou na Itália desde o último título do Napoli, mas nem tanto. O clube ainda está longe de estar entre os times mais ricos do país. Milan, Inter e Juventus sempre largam na frente quando se diz respeito ao poderio financeiro para montar uma equipe de alto nível.
Por isso, o atual título do Napoli tem que ser valorizado tanto quanto os primeiros, ainda mais nos dias de hoje, onde o capital engoliu por completo o futebol, praticamente impossibilitando times que não tem grandes orçamentos de serem campeões de ligas europeias.
O Vesúvio, Zeus, Maradona e os atuais heróis
Maradona se juntou ao Olimpo há pouco tempo, mas seu espírito continuou a pulsar em cada jogador da equipe napolitana durante esta temporada.
De Laurentiis deixou a cargo do time um 'diretor de cinema' que com pouco orçamento, fez uma grande obra de arte. O diretor, ou melhor, o treinador da equipe, Luciano Spalletti, extraiu dos seus jogadores algo que a imprensa italiana não acreditava e levou o Napoli ao título com 5 rodadas de antecedência.
"Eles querem ser alguma coisa, ser alguém. Há um ditado napolitano que diz: 'Quem tem fome não tem sono'. Isso resume o nosso time"
Luciano Spalletti
Do Olimpo, ou até mesmo do Vesúvio, Maradona observa o surgimento de novos ídolos napolitanos. Os maiores dessa geração, sem dúvidas, são o nigeriano Victor Osimhen e o georgiano Khvicha Kvaratskhelia.
Uma cidade que foi marginalizada e vítima de racismo pelo resto da Itália ao longo da história, que abraça seus imigrantes a ponto de tornarem-se 'deuses', comemora agora a vitória dos mais fracos.
Anteriormente associado a Zeus e famoso por ser o lugar impenetrável habitado pelos deuses, o Vesúvio, hoje, explode de alegria e derrama lágrimas de felicidade. Com certeza, Zeus e Maradona já deixaram alguns lugares separados para os atuais heróis de Nápoles.