Uma forte declaração do técnico da Seleção Uruguaia, Marcelo Bielsa, antes do jogo entre Brasil e Uruguai pela Copa América, repercutiu bastante no meio do futebol.

Se do ponto de vista 'europeu', as palavras do técnico argentino foram vistas como 'insensatas'. Para nós, sul-americanos, seus dizeres caíram como uma luz que clarificou alguns dos maiores problemas que o nosso futebol passou a conviver.

Bielsa citou a equipe do São Paulo dos anos 90, que contava com jogadores como Raí, Antonio Carlos, Cafú, Muller e outros, que atuavam no futebol brasileiro, mas também defendiam a camisa canarinho. Fenômeno este praticamente impossível de acontecer nos dias atuais, tendo em vista que os melhores jogadores sul-americanos saem muito cedo para jogar no futebol europeu. Isto claro, por conta do abismo financeiro que existe entre o 'velho continente' e a América do Sul.

Nas palavras do treinador, o futebol é essencialmente uma propriedade popular, uma vez que: "Os pobres têm pouca capacidade de acesso à felicidade porque não dispõem de dinheiro para comprar felicidade. O futebol, como é gratuito, é de origem popular. Esse futebol, que era uma das poucas coisas que os mais pobres mantinham, já não tem mais, porque aos 17 anos Endricks se vão".

É evidente que uma vez que o futebol sul-americano exporta cada vez mais cedo os seus talentos, a perda de identidade do futebol praticado aqui, também se expande. E isso é notório tanto no micro (no futebol praticado dentro de cada país) quanto no macro (no futebol praticado por uma seleção nacional). Tomemos como exemplo a Seleção Brasileira. Na última convocação de Dorival Júnior para a Copa América, somente quatro jogadores selecionados atuam no futebol brasileiro. E se analisarmos o 'estilo de jogo' aplicado pelo Brasil e seus jogadores, poucas semelhanças se encontram com o que sempre foi referido como 'identidade brasileira'.

A padronização do futebol mundial, inclusive na América do Sul, fez com que todos os torneios internacionais ficassem mais disputados e competitivos. Porém, assim como Bielsa fala, o jogo virou 'previsível' e muito menos 'agradável' de se assistir. De acordo com o técnico, existe um aumento artificial de espectadores no futebol, que vai cair por terra a partir do momento em que o futebol como identidade e expressão cultural se dissipar por completo.

Da perspectiva europeia, é muito difícil concluir ou apontar um caminho sobre essas questões. No entanto, falando, por exemplo, do Brasil, é notório o aumento da falta de interesse do torcedor para com a Seleção Brasileira nos últimos anos. As palavras de Bielsa devem servir como um alerta para o futebol brasileiro. O futebol que um dia já foi o maior e mais bonito do mundo, mas que hoje, se vê completamente à deriva.